segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Não é de Victor Hugo !

O poema "Desejo" não é de Victor Hugo, mas circula na internet em francês e em português como se fosse.
Originalmente ele é nomeado "Os votos" de autoria do poeta gaúcho Sergio Jockymann, publicado em 1980 no Jornal Folha da Tarde, de Porto Alegre-RS.

Eis o poema em Português e sua versão para o francês:


OS VOTOS

Pois, desejo primeiro que você ame e que amando, seja também amado,
E que se não o for, seja breve em esquecer e esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo depois que não seja só, mas que se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos e que, mesmo maus e inconseqüentes, sejam corajosos e fiéis,
E que em pelo menos um deles você possa confiar, que confiando, não duvide de sua confiança.
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos, nem muitos nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas
E que entre eles haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiadamente seguro.
Desejo, depois, que você seja útil, não insubstituivelmente útil,
Mas razoavelmente útil. E que nos maus momentos, quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. Desejo ainda que você seja tolerante,
não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com aqueles que erram muito e irremediavelmente,
E que essa tolerância não se transforme em aplauso nem em permissividade,
Para que assim fazendo um bom uso dela, você dê também um exemplo para os outros.
Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais e que, sendo maduro,
não insista em rejuvenescer e que, sendo velho, não se dedique a desesperar.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
é preciso deixar que eles escorram dentro de nós.
Desejo, por sinal, que você seja triste, mas não o ano todo,
nem em um mês e muito menos numa semana, mas apenas por um dia.
Mas que nesse dia de tristeza, você descubra que o riso diário é bom,
o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra com o máximo de urgência, acima e a despeito de tudo,
Talvez agora mesmo, mas se for impossível, amanhã de manhã,
que existem oprimidos, injustiçados e infelizes,
e que estão à sua volta, porque seu pai aceitou conviver com eles.
E que eles continuarão à volta de seus filhos, se você achar a convivência inevitável.
Desejo ainda que você afague um gato, que alimente um cão
e ouça pelo menos um joão-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal.
Porque assim você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
por mais ridícula que seja, e acompanhe o seu crescimento dia-a-dia,
para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático.
E que, pelo menos uma vez por ano, você ponha uma porção dele na sua frente e diga:
Isso é meu. Só para que fique bem claro quem é dono de quem.
Desejo ainda que você seja frugal, não inteiramente frugal,
não obcecadamente frugal, mas apenas usualmente frugal.
Mas que esse frugalismo não impeça você de abusar quando o abuso se impõe.
Desejo também que nenhum dos seus afetos morra, por ele e por você.
Mas que, se morrer, você possa chorar sem se culpar e sofrer sem se lamentar.
Desejo, por fim, que sendo mulher você tenha um bom homem,
E que sendo homem, tenha uma boa mulher.
E que se amem hoje, amanhã, depois, no dia seguinte, mais uma vez,
E novamente, de agora até o próximo ano acabar,
E que quando estiverem exaustos e sorridentes,
ainda tenham amor para recomeçar.
E se isso só acontecer, não tenho mais nada para desejar.

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Je te souhaite… (infelizmente não sei quem foi o tradutor.)


Je te souhaite d'abord que tu aimes
Et qu'en aimant, tu sois à ton tour aimé.
Et, si ce n'est pas le cas, que tu puisses vite oublier
Et qu’après avoir oublié, tu ne gardes aucune rancune.
Je ne souhaite pas que cela en soit ainsi, mais si c’est le cas
Que tu saches « être » sans désespérer.

Je te souhaite aussi que tu aies des amis,
Et même s'ils sont mauvais et inconséquents,
Qu'ils soient vaillants et fidèles.
Et qu’entre eux, il y ait au moins un,
À qui tu puisses te confier sans crainte.
Et parce que la vie est ainsi faite,

Je te souhaite aussi que tu aies des ennemis.
Ni trop, ni trop peu, juste la bonne mesure, pour que parfois,
Tu puisses questionner tes propres certitudes.
Et que parmi eux, il y ait au moins un qui soit juste,
Pour que tu ne te sentes pas trop sûr de toi...

Je te souhaite aussi que tu sois utile,
Mais point irremplaçable. Et que dans les mauvais moments,
Quand il ne te restera plus rien,
Que cette utilité t’aide à te maintenir debout.
De la même manière, je te souhaite aussi que tu sois tolérant.
Pas avec ceux qui se trompent peu, parce que cela est facile,
Sinon avec ceux qui se trompent beaucoup et inévitablement.
Et que faisant bon usage de cette tolérance,
Que tu serves d’exemple à d’autres.

Je te souhaite qu’étant jeune, tu ne mûrisses point trop vite
Et qu’une fois mûr, que tu n’insistes pas à rajeunir,
Et qu’étant vieux, que tu ne te laisses pas au désespoir.
Parce que chaque âge à son plaisir et sa douleur
Et il est nécessaire de les laisser couler entre nous.

Je te souhaite de ce pas, que tu sois triste.
Pas toute l’année sinon à peine un jour.
Mais que ce jour, tu découvres que le rire journalier est bon,
Que le rire habituel est ennuyeux et que le rire constant est malsain.

Je te souhaite que tu découvres, urgemment, au-delà et malgré tout,
Qu’il existe et t’entourent des êtres opprimés,
Traités avec injustice et des personnes malheureuses.

Je te souhaite que tu caresses un chat,
Que tu donnes à manger à un oiseau
Et que tu écoutes le chardonneret se dresser
Triomphant avec son chant matinal,
Parce que de cette manière, tu pourras te sentir bien pour un rien.

Je souhaites que tu plantes une graine,
Pour plus petite qu’elle soit et que tu l’accompagne dans sa croissance.
Pour que tu puisses découvrir de combien de vies est fait un arbre.

Je te souhaite en plus que tu aies de l’argent,
Parce qu’il est nécessaire d’être pratique.
Et qu’au moins une fois par an,
Tu mettes une partie de cet argent devant toi
Et que tu dises "Ceci est à moi",
Seulement pour tirer au clair qui est maître de qui.

Je te souhaite qu’aucun de tes affectionnés ne meurt.
Mais si l’un d’eux arrive à mourir, que tu puisses pleurer
Sans te lamenter et souffrir sans te sentir coupable.

Je te souhaite enfin qu’étant homme, tu aies une bonne femme.
Et qu’étant femme, tu aies un bon mari.
Demain et après-demain et quand vous soyez épuisés et souriants,
Que vous puissiez parler d’amour pour recommencer.
Et si toutes ces choses viennent à t’arriver,
Je n’ai plus rien d’autre à te souhaiter…


Uma simples análise do poema em francês comprova que ele não é de Victor Hugo pela simples ausência do verso alexandrino, característica própria do escritor francês no que se refere à poesia.

5 comentários:

  1. Boa note! Que coisa impressionante... Recebi o poema em português e como falo francês, fui atrás do original. Comecei a encontrar "erros" na tradução. Então, fui em busca de um outro (quem sabe aquele texto foi mal copiado, pois encontrei um erro gramatical). Resultado: achei o seu blog... Puxa... Que bom...! Muito obrigada!

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    1. Pois é. Eu recebi assim como você o mesmo e-mail tempos atrás, mas como pesquisa Victor Hugo a um bom tempo, duvidei. E essa postagem é para esclarecer isso.

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  2. Muito legal dar o credito para o autor certo estava publicando em nome de outro autor!!!

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  3. Isso é sério? Não é mesmo de Victor Hugo?
    Impressionada aqui, esse poema meche comigo num grau inimaginável.
    Por anos é a minha msg de Natal à todos, por considera-lo perfeito!
    Sendo verdadeiro o fato de que o autor na verdade é o Brasilieiro, quero corrigir meu engano e dar o devido crédito à sua pessoa!

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  4. muito obrigado .e muito importante esse trabalho de dar ao autor o credito .

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