sábado, 14 de fevereiro de 2015

O papa e o concílio

Em 1877, o jovem Rui Barbosa efetua a tradução do livro O papa o concílio, um compêndio alemão  de autoria de Janus (pseudônimo do apostata Döllinger) que traz fortes argumentos contra a infabilidade do papa.



A edição deste livro foi toda financiada pelo próprio Rui Barbosa. O interessante é que o livro original contêm quase 300 páginas e na edição brasileira ele tem mais de 600 páginas. De fato, a tradução deste livro no Brasil é considerada como um grande manifesto a favor da liberdade de expressão e de culto.
A tradução é dividida da seguinte forma: Prefácio do tradutor, introdução do tradutor e o livro traduzido. No prefácio é explicada a motivação da tradução:

Ora, a respeito della a nossa Literatura - salva a propaganda, brilhante, infatigavel, admiravel, heroica, mas solitaria, de Ganganelli - é ainda pauperrima, para bem dizer, nulla. No sentido liberal, principalmente, a escassez é ainda mais deplorave!. Até agora não possuimos um trabalho methodico, amplo, que irradie luz sobre toda a esphera da questão. Sem presumpção; sem nenhuma confiança a não ser no mais árduo, aprofundado e consciencioso estuclo, exercido muitas vezes em mananciaes até agora talvez inteiramente inexplorados entre nós; sem nenhuma ambição mais que a de servir modestamente nossa patria. concorrendo com alguns materiacs irrefugaveis para a instauração da liberdade religiosa, pareceu - no metter mãos à tentativa. 
[…]

A Europa olhou-o como o manifesto do catholicismo liberal; governos desse continente houve, que o fizeram traduzir, outros que o distribuiram gratuitamente entre o clero; todos os idiomas cultos, salvo talvez unicamente o portuguez, vernaculisararn-no; e o jesuitismo poz a preço a sua refutação. (pág. XII)


Já na introdução com mais de 260 páginas, Rui Barbosa explica o que é a Questão Religiosa no Brasil e no mundo e escreve um verdadeiro manifesto incentivando a separação entre Estado e Igreja e a conscientização entre liberdade individual e coletiva.
Se não bastasse o tamanho da voz do tradutor no prefácio e especialmente na longa introdução, a tradução do livro em si traz inúmeras notas com o seguinte dizer Nota do tradutor brasileiro.
Há quem diga que Rui Barbosa se arrependeu de seu feito devido à edição ter ficada encalhada em diversas livrarias e ter tido a resistência de setores católicos à época. Alguns estudiosos de Rui Barbosa até mencionam que por obra deste arrependimento, ele teria não mais permitido a reimpressão do livro; mas que, após sua morte, muitas editoras teriam reimprimido o livro sem porém adicionarem o prefácio que o tradutor havia feito explicando seu remorso.
Entretanto, este não deixa de ser um caso interessante da História da tradução no Brasil.

2 comentários:

  1. A VERDADE TEM QUE VIR À TONA!!!
    O ESTADO BRASILEIRO É LAICO, ou deveria?
    não?!!

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  2. A VERDADE TEM QUE VIR À TONA!!!
    O ESTADO BRASILEIRO É LAICO, ou deveria?
    não?!!

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