quinta-feira, 29 de março de 2018

Múltiplos horizontes da tradução na América Latina

Dossiê muito interessante sobre a tradução na América Latina na Revista Trabalhos de Linguística Aplicada 

v. 57, n. 1 (2018)
Múltiplos horizontes da tradução na América Latina

Sumário
Apresentação
Horizontes da tradução na América Latina
Dennys Silva-Reis, Liliam Ramos da Silva


Dossiê
Tradução: espelho da mudança? Mafalda responde
Marcos Bagno
A literatura no rádio e na televisão: traduções intersemióticas na América Latina?
Dennys Silva-Reis
Não me chame de mulata: uma reflexão sobre a tradução em literatura afrodescendente no Brasil no par de línguas espanhol-português
Liliam Ramos da Silva
Tendencias deformantes y paratextos en la traducción al inglés de Huasipungo, de Jorge Icaza
Pilar Cobo González, Roberto Bein
Traduzir a metapoética em Eikónes de Luciano: das versões espanholas de “Os retratos” até uma versão argentina de “Imagens”
Gabriela Baralle, Ivana Chialva
A tradução como política linguística: o caso da Unasul
Guilherme Queiroz, Marcos Bagno, Júlio César Neves Monteiro
A tradução como potência para a tradição literária
Karina de Castilhos Lucena
Por uma (po)ética da convivência: Antoine Berman, a América Latina e a tradução em manifesto
Simone Christina Petry
Ina Césaire e os contos crioulos martinicanos: desafios de tradução
Patrícia Chittoni Ramos Reuillard, Samanta Vitória Siqueira
Diáspora negra em contexto de tradução: discutindo a publicação de Mulheres, raça e classe, de Angela Davis, no Brasil
Luciana de Mesquita Silva
La sintaxis de los enunciados téticos y categóricos en dos traducciones de Corazones solitarios de Rubem Fonseca al español
Paulo Pinheiro-Correa
Culturas legítimas: la traducción de historietas latinoamericanas en Brasil
Barbara Zocal
Um estudo sobre a formação de tradutores e intérpretes de línguas de sinais
Juliana Guimarães Faria, Anabel Galán-Mañas
Competência em tradução e línguas de sinais: a modalidade gestual-visual e suas implicações para uma possível competência tradutória intermodal
Carlos Henrique Rodrigues
A desambiguação de palavras homônimas em sentenças por aplicativos de Tradução Automática Português Brasileiro-Libras
Ygor Corrêa, Rafael Peduzzi Gomes, Carina Rebello Cruz
Sincretismo religioso como estratégia de sobrevivência transnacional e translacional: divindades africanas e santos católicos em tradução
Tito Lívio Cruz Romão

Boa leitura!

segunda-feira, 26 de março de 2018

SIMPÓSIO ABRALIC: 67 - SENTIDOS DA TRADUÇÃO: ASSIMETRIA, APROPRIAÇÃO E CRÍTICA

Prezad@​s, 
Convido a todos a participarem do Simpósio 67 - Sentidos da tradução: assimetria, apropriação e crítica que acontecerá no evento da Associação Brasileira de Literatura Comparada entre os dias 30 de julho e 3 agosto.


67 - SENTIDOS DA TRADUÇÃO: ASSIMETRIA, APROPRIAÇÃO E CRÍTICA

Coordenação: Daniel Padilha Pacheco da Costa (UFU)
Dennys Silva-Reis (UnB/POSLIT)

Resumo:

Desde o final do século XVIII e início do XIX, a excessiva valorização da originalidade do escritor relegara a tradução à condição de simulacro. Com isso, a tradução e a crítica literária colocaram-se ambas a serviço do trabalho filológico. Considerando a tradução como uma das modalidades de crítica literária, essa concepção visava oferecer subsídio para a compreensão do “original” (SCHLEIERMACHER, 2010). As ramificações dessa concepção não se limitam a poetas do Romantismo alemão como, por exemplo, Johann Wolfgang von Goethe e Friedrich Hölderlin, mas ainda podem ser encontradas em meados do século XX, como testemunha sua presença em filósofos como Walter Benjamin e Martin Heidegger (BERMAN, 1989).
Com a intensificação do processo de globalização nos anos de 1970, emergiu um campo transdisciplinar de estudos sobre tradução. A emergência dos Estudos da Tradução coincide com a destituição do privilégio dado à escrita como suporte privilegiado de transmissão do conhecimento, sendo, portanto, acompanhada pelo declínio das disciplinas tradicionalmente associadas à transmissão de textos escritos. Entre essas disciplinas figura, por exemplo, a história literária, que tinha sido a responsável pela transmissão dos cânones nacionais, os quais, por dois séculos, gozaram de grande prestígio cultural como a expressão máxima da língua e da cultura nacionais.
        Com sua emergência, esse novo campo de estudos integra não apenas as modalidades tradutórias anteriormente existentes – como os diferentes gêneros de tradução de textos escritos, que podem ser classificados como literários, religiosos, filosóficos ou científicos, por exemplo –, como também novas modalidades – como a localização, a tradução de games, a tradução de textos multimodais ligados aos suportes digitais e à internet, as formas de tradução relacionadas à acessibilidade, entre outras. Assim, os Estudos da Tradução englobam todos os tipos de modalidade textual (oral, escrito, digital) e de suporte intersemiótico (visual, sonoro, gestual, tátil).
Na origem dos Estudos da Tradução como campo transdisciplinar autônomo, podem ser encontradas diversas abordagens teóricas sob a rubrica de Estudos Descritivos de Tradução. Os teóricos pertencentes à Escola de Tel Aviv permitiram ampliar enormemente o escopo da área, que passou a apreender a relação indissociável entre a tradução e as condições materiais, intelectuais e sociais de recepção e transmissão nos polissistemas da cultura de chegada (TOURY, 1995). Para a teoria da manipulação (LEFEVERE, 2007), a prática tradutória deixou de ser isolada das diferentes modalidades de reescrita a que está intimamente vinculada, como a edição, a produção de antologias de textos, de compêndios de histórias literárias, de trabalhos de referência e de críticas.
      Esse novo campo de estudos é contemporâneo de outros eixos transdisciplinares, como os Estudos de Gênero, os Estudos Pós-Coloniais e os Estudos Culturais. Intercambiando conceitos, métodos e abordagens oriundos dessas áreas, a teoria da visibilidade procura desvendar as relações de poder ocultadas por trás das representações culturais, linguísticas e identitárias entre países, classes, gêneros e culturas diferentes (VENUTI, 2002). Os estudos realizados em países de história colonial, que estabeleceram com as nações consideradas do hemisfério norte uma longa história de trocas linguísticas, culturais e identitárias, conferem uma contribuição decisiva para a compreensão das complexas relações de poder necessariamente envolvidas em todo ato tradutório, pois destes interstícios culturais advém parte da modelagem do sujeito colonial e da diferença colonial na negociação de relações interculturais (SCHARLAU, 2003).
As relações de poder envolvidas em toda tradução também concernem à apropriação cultural – no que concerne à América Latina, inclusive, Georges Bastin, Álvaro Echeverri e Ángela Campo (2004) nomeiam como paradigma da tradução nesta região o conceito de tradução apropriada – pelas classes sociais responsáveis pela justificação da hierarquia existente no interior dos diferentes países. Desde a antiguidade romana, a tradução foi um motor central de apropriação cultural capaz de assentar o poder imperial, como testemunha a relação entre as tópicas latinas da translatio studii e da translatio imperii.
No Brasil, a apropriação cultural promovida pela tradução foi definida por meio da metáfora do canibalismo tupinambá, cunhada pelo modernista Oswald de Andrade. A derradeira poética da tradução formulada pelo concretista Haroldo de Campos descreve o papel desempenhado pela tradução como um processo de apropriação das diferentes culturas envolvidas na formação da identidade nacional (VIEIRA, 1999). Embora seja comumente utilizada para designar a tradição brasileira de tradução (SNELL-HORNBY, 2006), a metáfora do canibalismo foi retomada por outros teóricos para explicar os processos de hibridização envolvidos nas traduções realizadas em um mundo pós-colonial e globalizado (CONFIANT, 2010).
Assim, a tradução parece ter se tornado um paradigma essencial da contemporaneidade, a qual passa a ser definida por alguns teóricos como a Era da tradução (CRONIN, 2013). Embora variem radicalmente as línguas, culturas, períodos, modalidades e suportes envolvidos, as diferentes concepções de interação assimétrica, de apropriação cultural e de crítica hermêneutica continuam a ser designadas por um único termo – tradução. Neste simpósio, pretende-se reunir trabalhos que aprofundem, através de seus respectivos objetos de pesquisa e pressupostos teóricos, os diferentes sentidos assumidos por esse termo polissêmico na contemporaneidade.


REFERÊNCIAS:
BASTIN, Georges; ECHEVERRI, Álvaro; CAMPO, Ángela. La traducción en América Latina: Propria y Apropriada. Estudios de Investigaciones Literarias y Culturales. Caracas, n. 24, p. 69-94, 2004.
BERMAN, Antoine. A tradução e a letra ou o albergue do longínquo. Trad. Marie Helène Catherine Torres, Mauri Furlan e Andreia Guerini. Rio de Janeiro: 7Letras/PGET, 2007.
SCHARLAU, Birgit. Repensar la Colonia, las relaciones interculturales y la traducción. Iberoamericana. Madrid, v. 3, n. 12, p. 97-110, 2003.
CONFIANT, Raphaël. L’Autre-Même: traduire dans un monde post-colonial et globalisé. Université des Antilles et de la Guyane: Service commun de la documentation, 2010. Disponível em:
http://www.manioc.org/fichiers/HASH01bc100c35a75d9bcf162c23. Acesso em: 23 mai. 2017.
CRONIN, M. A era da tradução: tecnologia, tradução e diferença. In: ROSVITHA, F. B.; PETERLE, P. (Org.). Tradução e relações de poder. Tubarão: Copiart, 2013, p. 193-222.
LEFEVERE, André. Tradução, reescrita e manipulação da fama literária. Trad. Claudia Matos Seligmann. Bauru: Edusc, 2007.
SCHLEIERMACHER, Friedrich. Sobre os diferentes métodos de tradução. Trad. Margarete von Mühlen Poll. In: HEIDERMANN, Werner (org.). Clássicos da teoria da tradução (alemão-português). UFSC: Florianópolis, 2010, p. 39-100.
SNELL-HORNBY, M. The Turns of Translation Studies: New Paradigms or shifting viewpoints. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins, 2006.
TOURY, Gideon. Descriptive Translation Studies and beyond. Philadelphia/Amsterdam: John Benjamins, 1995.
VENUTI, Lawrence. Os Escândalos da Tradução. Trad. L. Perlegrin, L. M. Villela, M. D. Esqueda e V. Biondo. Bauru: EDUSC, 2002.
VIEIRA, Else Ribeiro Pires. Liberating Calibans: readings of Antropofagia and Haroldo de Campos’ poetics of transcreation. In: BASSNET, S. e TRIVEDI H. (org.). Post-colonial Translation: Theory and practice. Nova Iorque & Londres: Routledge, 1999, p. 95-113.

Resumo do simpósio: https://www.academia.edu/…/Chamada_de_trabalhos_-_SIMPÓSIO_…
Site para inscrição: http://www.abralic.org.br

sábado, 17 de março de 2018

A tradução de literatura hispano-americana no Brasil : um capítulo da história da literatura brasileira

Atualizada referência para quem estuda as relações de literatura hispano-americana traduzida no Brasil é a dissertação de mestrado de Sérgio Karam A tradução de literatura hispano-americana no Brasil : um capítulo da história da literatura brasileira, disponível aqui.


Resumo do texto:


Este trabalho tem como objetivo fazer um levantamento das traduções de obras de ficção em prosa de autores hispano-americanos publicadas no Brasil, tanto em coleções criadas com o fim específico de divulgar a literatura hispano-americana no país quanto em edições isoladas, fora de coleção. A análise principal está voltada para as coleções publicadas por diversas editoras brasileiras entre as décadas de 1960 e 1990, mas também serão analisadas algumas iniciativas editoriais anteriores e posteriores a estas décadas. Além do levantamento em si, o trabalho procura identificar o propósito editorial que norteou a tradução e publicação de autores hispano-americanos no Brasil, em cada momento histórico analisado, para tentar entender o que significou a circulação destas obras no sistema literário brasileiro.


Boa leitura!

terça-feira, 13 de março de 2018

Damiana da Cunha, uma intérprete goiana





Damiana da Cunha ainda é pouco conhecida.

Foi uma figura importante na colonização de Goiás. Era uma mulher indígena caipó paraná comprada por Dom Luíz da Cunha Menezes, governador de Goiás, a fim de auxiliar na conquista de terras.

Como intérprete e intermediária catequizou toda a sua tribo e foi mediadora em inúmero conflitos entre branco e índios. Maria José Silveira (2006) escreveu um romance [Gerra no coração do cerrado] ficcionalizando a vida desta intérprete. E igualmente Suelen Siqueira Julio (2015) realizou um pesquisa extramente detalhada e intitulada "Damiana da Cunha : uma índia entre a “sombra da cruz” e os caiapós do sertão (Goiás, c. 1780-1831)" disponível aqui.


quinta-feira, 1 de março de 2018

Índia Vanuíre, uma intérprete indígena do século XIX


Em recentes pesquisas sobre intérpretes mulheres cheguei ao nome de Índia Vanuíre, poucas informações encontrei sobre seu paradeiro. Porém, um museu é dedicado a ela e na página do site está descrito a seguinte mensagem:


"No início do século XX, a marcha do café para o oeste de São Paulo trouxe consequências violentas para os Kaingang que ocupavam esse território. Ocorriam constantes chacinas de aldeias inteiras e grande divulgação negativa dos Kaingang por meio da imprensa, com o objetivo de desvalorização das terras dominadas pelos indígenas, para posterior valorização para aqueles que as compraram. O extermínio não se completou graças à ação do SPI – Serviço de Proteção aos Índios.

Desde então, a índia Vanuíre faz parte do imaginário da população da região, sendo considerada uma heroína. De acordo com a lenda, Vanuíre subia em um jequitibá de dez metros de altura, onde permanecia do nascer do dia ao cair da tarde entoando cânticos de paz.

De fato, Vanuíre foi uma Kaingang trazida do Paraná pelo SPI, como estratégia de atração dos Kaingang da região para que fossem aldeados. Assim, ela atuou como intérprete, como outros. Ela simboliza o fim dos conflitos, em 1912, que resultou no aldeamento dos Kaingang em duas áreas restritas, hoje as Terras Indígenas Vanuíre e Icatu, localizadas respectivamente em Arco-Íris e Braúna (SP). A índia Vanuíre faleceu em 1918 em Icatu, onde viveu seus últimos dias.

Vanuíre é considerada por muitos como a grande “pacificadora”, imagem que o museu quer desconstruir, pois reforça a visão negativa dos Kaingang implantada há um século. O museu respeita o simbolismo que envolve essa personagem, mas atua critica e historicamente."


Como se pode ver, há apenas o elemento de que ela foi intérprete e elo importante de pacificação. Seria interessante se achassemos mais informações sobre essa intéprete pouco conhecida.