segunda-feira, 26 de março de 2018

SIMPÓSIO ABRALIC: 67 - SENTIDOS DA TRADUÇÃO: ASSIMETRIA, APROPRIAÇÃO E CRÍTICA

Prezad@​s, 
Convido a todos a participarem do Simpósio 67 - Sentidos da tradução: assimetria, apropriação e crítica que acontecerá no evento da Associação Brasileira de Literatura Comparada entre os dias 30 de julho e 3 agosto.


67 - SENTIDOS DA TRADUÇÃO: ASSIMETRIA, APROPRIAÇÃO E CRÍTICA

Coordenação: Daniel Padilha Pacheco da Costa (UFU)
Dennys Silva-Reis (UnB/POSLIT)

Resumo:

Desde o final do século XVIII e início do XIX, a excessiva valorização da originalidade do escritor relegara a tradução à condição de simulacro. Com isso, a tradução e a crítica literária colocaram-se ambas a serviço do trabalho filológico. Considerando a tradução como uma das modalidades de crítica literária, essa concepção visava oferecer subsídio para a compreensão do “original” (SCHLEIERMACHER, 2010). As ramificações dessa concepção não se limitam a poetas do Romantismo alemão como, por exemplo, Johann Wolfgang von Goethe e Friedrich Hölderlin, mas ainda podem ser encontradas em meados do século XX, como testemunha sua presença em filósofos como Walter Benjamin e Martin Heidegger (BERMAN, 1989).
Com a intensificação do processo de globalização nos anos de 1970, emergiu um campo transdisciplinar de estudos sobre tradução. A emergência dos Estudos da Tradução coincide com a destituição do privilégio dado à escrita como suporte privilegiado de transmissão do conhecimento, sendo, portanto, acompanhada pelo declínio das disciplinas tradicionalmente associadas à transmissão de textos escritos. Entre essas disciplinas figura, por exemplo, a história literária, que tinha sido a responsável pela transmissão dos cânones nacionais, os quais, por dois séculos, gozaram de grande prestígio cultural como a expressão máxima da língua e da cultura nacionais.
        Com sua emergência, esse novo campo de estudos integra não apenas as modalidades tradutórias anteriormente existentes – como os diferentes gêneros de tradução de textos escritos, que podem ser classificados como literários, religiosos, filosóficos ou científicos, por exemplo –, como também novas modalidades – como a localização, a tradução de games, a tradução de textos multimodais ligados aos suportes digitais e à internet, as formas de tradução relacionadas à acessibilidade, entre outras. Assim, os Estudos da Tradução englobam todos os tipos de modalidade textual (oral, escrito, digital) e de suporte intersemiótico (visual, sonoro, gestual, tátil).
Na origem dos Estudos da Tradução como campo transdisciplinar autônomo, podem ser encontradas diversas abordagens teóricas sob a rubrica de Estudos Descritivos de Tradução. Os teóricos pertencentes à Escola de Tel Aviv permitiram ampliar enormemente o escopo da área, que passou a apreender a relação indissociável entre a tradução e as condições materiais, intelectuais e sociais de recepção e transmissão nos polissistemas da cultura de chegada (TOURY, 1995). Para a teoria da manipulação (LEFEVERE, 2007), a prática tradutória deixou de ser isolada das diferentes modalidades de reescrita a que está intimamente vinculada, como a edição, a produção de antologias de textos, de compêndios de histórias literárias, de trabalhos de referência e de críticas.
      Esse novo campo de estudos é contemporâneo de outros eixos transdisciplinares, como os Estudos de Gênero, os Estudos Pós-Coloniais e os Estudos Culturais. Intercambiando conceitos, métodos e abordagens oriundos dessas áreas, a teoria da visibilidade procura desvendar as relações de poder ocultadas por trás das representações culturais, linguísticas e identitárias entre países, classes, gêneros e culturas diferentes (VENUTI, 2002). Os estudos realizados em países de história colonial, que estabeleceram com as nações consideradas do hemisfério norte uma longa história de trocas linguísticas, culturais e identitárias, conferem uma contribuição decisiva para a compreensão das complexas relações de poder necessariamente envolvidas em todo ato tradutório, pois destes interstícios culturais advém parte da modelagem do sujeito colonial e da diferença colonial na negociação de relações interculturais (SCHARLAU, 2003).
As relações de poder envolvidas em toda tradução também concernem à apropriação cultural – no que concerne à América Latina, inclusive, Georges Bastin, Álvaro Echeverri e Ángela Campo (2004) nomeiam como paradigma da tradução nesta região o conceito de tradução apropriada – pelas classes sociais responsáveis pela justificação da hierarquia existente no interior dos diferentes países. Desde a antiguidade romana, a tradução foi um motor central de apropriação cultural capaz de assentar o poder imperial, como testemunha a relação entre as tópicas latinas da translatio studii e da translatio imperii.
No Brasil, a apropriação cultural promovida pela tradução foi definida por meio da metáfora do canibalismo tupinambá, cunhada pelo modernista Oswald de Andrade. A derradeira poética da tradução formulada pelo concretista Haroldo de Campos descreve o papel desempenhado pela tradução como um processo de apropriação das diferentes culturas envolvidas na formação da identidade nacional (VIEIRA, 1999). Embora seja comumente utilizada para designar a tradição brasileira de tradução (SNELL-HORNBY, 2006), a metáfora do canibalismo foi retomada por outros teóricos para explicar os processos de hibridização envolvidos nas traduções realizadas em um mundo pós-colonial e globalizado (CONFIANT, 2010).
Assim, a tradução parece ter se tornado um paradigma essencial da contemporaneidade, a qual passa a ser definida por alguns teóricos como a Era da tradução (CRONIN, 2013). Embora variem radicalmente as línguas, culturas, períodos, modalidades e suportes envolvidos, as diferentes concepções de interação assimétrica, de apropriação cultural e de crítica hermêneutica continuam a ser designadas por um único termo – tradução. Neste simpósio, pretende-se reunir trabalhos que aprofundem, através de seus respectivos objetos de pesquisa e pressupostos teóricos, os diferentes sentidos assumidos por esse termo polissêmico na contemporaneidade.


REFERÊNCIAS:
BASTIN, Georges; ECHEVERRI, Álvaro; CAMPO, Ángela. La traducción en América Latina: Propria y Apropriada. Estudios de Investigaciones Literarias y Culturales. Caracas, n. 24, p. 69-94, 2004.
BERMAN, Antoine. A tradução e a letra ou o albergue do longínquo. Trad. Marie Helène Catherine Torres, Mauri Furlan e Andreia Guerini. Rio de Janeiro: 7Letras/PGET, 2007.
SCHARLAU, Birgit. Repensar la Colonia, las relaciones interculturales y la traducción. Iberoamericana. Madrid, v. 3, n. 12, p. 97-110, 2003.
CONFIANT, Raphaël. L’Autre-Même: traduire dans un monde post-colonial et globalisé. Université des Antilles et de la Guyane: Service commun de la documentation, 2010. Disponível em:
http://www.manioc.org/fichiers/HASH01bc100c35a75d9bcf162c23. Acesso em: 23 mai. 2017.
CRONIN, M. A era da tradução: tecnologia, tradução e diferença. In: ROSVITHA, F. B.; PETERLE, P. (Org.). Tradução e relações de poder. Tubarão: Copiart, 2013, p. 193-222.
LEFEVERE, André. Tradução, reescrita e manipulação da fama literária. Trad. Claudia Matos Seligmann. Bauru: Edusc, 2007.
SCHLEIERMACHER, Friedrich. Sobre os diferentes métodos de tradução. Trad. Margarete von Mühlen Poll. In: HEIDERMANN, Werner (org.). Clássicos da teoria da tradução (alemão-português). UFSC: Florianópolis, 2010, p. 39-100.
SNELL-HORNBY, M. The Turns of Translation Studies: New Paradigms or shifting viewpoints. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins, 2006.
TOURY, Gideon. Descriptive Translation Studies and beyond. Philadelphia/Amsterdam: John Benjamins, 1995.
VENUTI, Lawrence. Os Escândalos da Tradução. Trad. L. Perlegrin, L. M. Villela, M. D. Esqueda e V. Biondo. Bauru: EDUSC, 2002.
VIEIRA, Else Ribeiro Pires. Liberating Calibans: readings of Antropofagia and Haroldo de Campos’ poetics of transcreation. In: BASSNET, S. e TRIVEDI H. (org.). Post-colonial Translation: Theory and practice. Nova Iorque & Londres: Routledge, 1999, p. 95-113.

Resumo do simpósio: https://www.academia.edu/…/Chamada_de_trabalhos_-_SIMPÓSIO_…
Site para inscrição: http://www.abralic.org.br

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