Prezad@s,
Convido a todos a participarem do Simpósio 67 - Sentidos da tradução: assimetria, apropriação e crítica que acontecerá no evento da Associação Brasileira de Literatura Comparada entre os dias 30 de julho e 3 agosto.
67 - SENTIDOS DA TRADUÇÃO: ASSIMETRIA, APROPRIAÇÃO E CRÍTICA
Coordenação: Daniel
Padilha Pacheco da Costa (UFU)
Dennys Silva-Reis
(UnB/POSLIT)
Resumo:
Desde o final do
século XVIII e início do XIX, a excessiva valorização da originalidade do
escritor relegara a tradução à condição de simulacro. Com isso, a tradução e a
crítica literária colocaram-se ambas a serviço do trabalho filológico.
Considerando a tradução como uma das modalidades de crítica literária, essa
concepção visava oferecer subsídio para a compreensão do “original”
(SCHLEIERMACHER, 2010). As ramificações dessa concepção não se limitam a poetas
do Romantismo alemão como, por exemplo, Johann Wolfgang von Goethe e Friedrich
Hölderlin, mas ainda podem ser encontradas em meados do século XX, como
testemunha sua presença em filósofos como Walter Benjamin e Martin Heidegger
(BERMAN, 1989).
Com a
intensificação do processo de globalização nos anos de 1970, emergiu um campo
transdisciplinar de estudos sobre tradução. A emergência dos Estudos da
Tradução coincide com a destituição do privilégio dado à escrita como suporte
privilegiado de transmissão do conhecimento, sendo, portanto, acompanhada pelo
declínio das disciplinas tradicionalmente associadas à transmissão de textos
escritos. Entre essas disciplinas figura, por exemplo, a história literária,
que tinha sido a responsável pela transmissão dos cânones nacionais, os quais,
por dois séculos, gozaram de grande prestígio cultural como a expressão máxima
da língua e da cultura nacionais.
Com sua emergência, esse novo campo
de estudos integra não apenas as modalidades tradutórias anteriormente
existentes – como os diferentes gêneros de tradução de textos escritos, que
podem ser classificados como literários, religiosos, filosóficos ou
científicos, por exemplo –, como também novas modalidades – como a localização,
a tradução de games, a tradução de textos multimodais ligados aos
suportes digitais e à internet, as formas de tradução relacionadas à
acessibilidade, entre outras. Assim, os Estudos da Tradução englobam todos os
tipos de modalidade textual (oral, escrito, digital) e de suporte
intersemiótico (visual, sonoro, gestual, tátil).
Na origem dos
Estudos da Tradução como campo transdisciplinar autônomo, podem ser encontradas
diversas abordagens teóricas sob a rubrica de Estudos Descritivos de Tradução.
Os teóricos pertencentes à Escola de Tel Aviv permitiram ampliar enormemente o
escopo da área, que passou a apreender a relação indissociável entre a tradução
e as condições materiais, intelectuais e sociais de recepção e transmissão nos
polissistemas da cultura de chegada (TOURY, 1995). Para a teoria da manipulação
(LEFEVERE, 2007), a prática tradutória deixou de ser isolada das diferentes
modalidades de reescrita a que está intimamente vinculada, como a edição, a
produção de antologias de textos, de compêndios de histórias literárias, de
trabalhos de referência e de críticas.
Esse novo campo de estudos é
contemporâneo de outros eixos transdisciplinares, como os Estudos de Gênero, os
Estudos Pós-Coloniais e os Estudos Culturais. Intercambiando conceitos, métodos
e abordagens oriundos dessas áreas, a teoria da visibilidade procura desvendar
as relações de poder ocultadas por trás das representações culturais,
linguísticas e identitárias entre países, classes, gêneros e culturas
diferentes (VENUTI, 2002). Os estudos realizados em países de história
colonial, que estabeleceram com as nações consideradas do hemisfério norte uma
longa história de trocas linguísticas, culturais e identitárias, conferem uma
contribuição decisiva para a compreensão das complexas relações de poder
necessariamente envolvidas em todo ato tradutório, pois destes interstícios
culturais advém parte da modelagem do sujeito colonial e da diferença colonial
na negociação de relações interculturais (SCHARLAU, 2003).
As relações de
poder envolvidas em toda tradução também concernem à apropriação cultural – no
que concerne à América Latina, inclusive, Georges Bastin, Álvaro Echeverri e
Ángela Campo (2004) nomeiam como paradigma da tradução nesta região o conceito
de tradução apropriada – pelas classes sociais responsáveis pela justificação
da hierarquia existente no interior dos diferentes países. Desde a antiguidade
romana, a tradução foi um motor central de apropriação cultural capaz de
assentar o poder imperial, como testemunha a relação entre as tópicas latinas
da translatio studii e da translatio imperii.
No Brasil, a
apropriação cultural promovida pela tradução foi definida por meio da metáfora
do canibalismo tupinambá, cunhada pelo modernista Oswald de Andrade. A
derradeira poética da tradução formulada pelo concretista Haroldo de Campos
descreve o papel desempenhado pela tradução como um processo de apropriação das
diferentes culturas envolvidas na formação da identidade nacional (VIEIRA,
1999). Embora seja comumente utilizada para designar a tradição brasileira de
tradução (SNELL-HORNBY, 2006), a metáfora do canibalismo foi retomada por outros
teóricos para explicar os processos de hibridização envolvidos nas traduções
realizadas em um mundo pós-colonial e globalizado (CONFIANT, 2010).
Assim, a
tradução parece ter se tornado um paradigma essencial da contemporaneidade, a
qual passa a ser definida por alguns teóricos como a Era da tradução (CRONIN,
2013). Embora variem radicalmente as línguas, culturas, períodos, modalidades e
suportes envolvidos, as diferentes concepções de interação assimétrica, de
apropriação cultural e de crítica hermêneutica continuam a ser designadas por
um único termo – tradução. Neste simpósio, pretende-se reunir trabalhos que
aprofundem, através de seus respectivos objetos de pesquisa e pressupostos
teóricos, os diferentes sentidos assumidos por esse termo polissêmico na
contemporaneidade.
REFERÊNCIAS:
BASTIN, Georges; ECHEVERRI, Álvaro;
CAMPO, Ángela. La traducción en América Latina: Propria y Apropriada. Estudios
de Investigaciones Literarias y Culturales. Caracas, n. 24, p. 69-94, 2004.
BERMAN, Antoine. A tradução e a
letra ou o albergue do longínquo. Trad. Marie Helène Catherine Torres, Mauri
Furlan e Andreia Guerini. Rio de Janeiro: 7Letras/PGET, 2007.
SCHARLAU, Birgit. Repensar la
Colonia, las relaciones interculturales y la traducción. Iberoamericana. Madrid,
v. 3, n. 12, p. 97-110, 2003.
CONFIANT, Raphaël. L’Autre-Même:
traduire dans un monde post-colonial et globalisé. Université des Antilles et
de la Guyane: Service commun de la documentation, 2010. Disponível em:
http://www.manioc.org/fichiers/HASH01bc100c35a75d9bcf162c23.
Acesso em: 23 mai. 2017.
CRONIN, M. A era da tradução:
tecnologia, tradução e diferença. In: ROSVITHA, F. B.; PETERLE, P. (Org.).
Tradução e relações de poder. Tubarão: Copiart, 2013, p. 193-222.
LEFEVERE, André. Tradução, reescrita
e manipulação da fama literária. Trad. Claudia Matos Seligmann. Bauru: Edusc,
2007.
SCHLEIERMACHER, Friedrich. Sobre os
diferentes métodos de tradução. Trad. Margarete von Mühlen Poll. In:
HEIDERMANN, Werner (org.). Clássicos da teoria da tradução (alemão-português).
UFSC: Florianópolis, 2010, p. 39-100.
SNELL-HORNBY, M. The Turns of
Translation Studies: New Paradigms or shifting viewpoints. Amsterdam;
Philadelphia: John Benjamins, 2006.
TOURY, Gideon. Descriptive
Translation Studies and beyond. Philadelphia/Amsterdam: John Benjamins,
1995.
VENUTI, Lawrence. Os Escândalos da
Tradução. Trad. L. Perlegrin, L. M. Villela, M. D. Esqueda e V. Biondo. Bauru:
EDUSC, 2002.
VIEIRA, Else Ribeiro Pires.
Liberating Calibans: readings of Antropofagia and Haroldo de Campos’ poetics of
transcreation. In: BASSNET, S. e TRIVEDI H. (org.). Post-colonial Translation:
Theory and practice. Nova Iorque & Londres: Routledge, 1999, p. 95-113.
Resumo do simpósio: https://www.academia .edu/…/Chamada_de_trabalhos_-_ SIMPÓSIO_…
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